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Mil faces
Mil olhares
Mil suspiros
Mil idealizações
Mil representações
Mil eternizações
Milhões antropofagias
Nenhuma receita para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
(...) Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
Manifesto Antropofágico. Oswaldo de Andrade, 1928
Nessa exposição o Kikyto Amaral retorna á tradição fotográfica, no qual os retratos eternizam as faces de cada individuo que quis ser "imortalizado", espelhando a intensidade de toda o imaginário existencial de cada encontro/instante.
Resultando num já memória, a exposição aberta a vários encontros carrega o observador incorporando/revelando mais uma centelha nesse instante/eterno em sua função evocativa. Toda a sensibilidade e profissionalismo do fotógrafo leva o observador a necessidade irresistível de procurar nos retratos a pequena centelha do acaso, do aqui e agora e de procurar o lugar imperceptível no qual o futuro se aninha em minutos atrás.
Não posso deixar de evocar Walter Benjamim, para ele a fotografia torna-se um momento privilegiado de suspensão da ordem estabelecida. A captação da personalidade num átimo de segundo faz desvelar, através do inconsciente óptico os mais recônditos sinais, emblemas e memórias na história dos vários personagens que participam dessa obra aberta: do fotógrafo, do fotografado e de quem as vê. Nesses momentos, encontros, desencontros, controvérsias se transformam em diálogos polissêmicos carregadas das várias percepções que se comunicam e, portanto se coletivizam.
Nesse mélange inscreve-se rostos/histórias coletivas que determinam um momento em seu contexto cultural. A exposição das mais diversas faces instaura a alteridade, captura as mais diversas almas em instantes privilegiados de beleza.
BELEZA resultado da antropofagia fundante desse Brasil das mil faces, como bem assinala Oswald: -“decorrente de tudo o que o estrangeiro traz para o Brasil, sugamos-lhes todas as idéias/indivíduos e as unimos às brasileiras, realizando assim uma produção artística e cultural rica, criativa, única e própria” .
Assim descrevo essa obra como resultado de todo o nosso processo histórico antropofágico desvelado pelo Movimento de Arte de 22 passando pela Tropicália, Tribalistas e seguindo avante renomeando ad eterno nosso processo macunaímico.
Maria de Lourdes Beldi de Alcântara
Antropóloga-FMUSP
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Thousand faces
Thousand looks
Thousand sighs
A thousand idealizations
A thousand representations
A thousand eternalizations Millions of the anthropophagics
No recipe for the contemporary expression of the world. See with free eyes.
(...) Now the moment is one of reaction to appearance. Reaction to copy. Replace the visual and naturalistic perspective with a perspective of another order: sentimental, intellectual, ironic, naive.
Anthropophagic Manifesto. Oswaldo de Andrade, 1928
In this exhibition Kikyto Amaral returns to the photographic tradition, in which the portraits eternalize the faces of each individual who wanted to be "immortalized", mirroring the intensity of all existential imagery of each encounter/instant.
Resulting in one already memory, the open exposure to various encounters carries the observer incorporating/revealing another scintilla at that moment / eternal in its evocative function. All the photographer's sensitivity and professionalism leads the viewer to the irresistible need to look in portraits for the small spark of random, the here and now, and to look for the imperceptible place where the future nestles minutes ago.
I can only recall Walter Benjamin, for him the photography becomes a privileged moment of suspension of the established order. The capture of personality in a flash makes unveiled, through the optical unconscious, the most hidden signs, emblems and memories in the history of the various characters who participate in this open work: of the photographer, of the photographed and those who see them. In these moments, encounters, disagreements, controversies become polysemic dialogues pervade with the various perceptions that communicate and thus collectivize.
In this melange is inscribed faces / collective histories that determine a moment in its cultural context. The exposure of the most diverse faces creates the altherity, captures the most diverse souls in privileged moments of beauty.
BEAUTY as a result of bring into being anthropophagy of this thousand-faced Brazil, as Oswald well points out: - “as a result of all that the foreigner brings to Brazil, we suck in all the ideas / individuals and unite them with the Brazilian imaginary, thus performing an artistic and rich, creative, unique and unique culture ”.
So I describe this work as a result of our entire anthropophagic historical process unveiled by the Art Movement of 22 through Tropocalia, Tribalists and moving forward renaming our forever macunaimic process.
Maria de Lourdes Beldi de Alcântara
Anthropologist-FMUSP